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APENAS UM DETALHE

ERA UMA VEZ...

Num reino distante, onde viviam duas princesas gêmeas idênticas, que iriam fazer 15 anos. O rei convocou todo o povo para celebrar a data com uma grande festa. Aproveitariam para chamar o reino vizinho, reatar laços distanciados e apresentar novos amigos para as meninas, que nunca haviam saído do castelo.

Os melhores profissionais foram convidados. O mestre dos músicos, o chefe da guarda, a chefe de cerimônias, o mestre da decoração, a melhor costureira, todos os artesãos e a melhor cozinheira, famosa por seus salgados e doces. Todos estavam eufóricos e queriam participar. Já fazia muito tempo que não se realizavam festas no reino, desde a morte da rainha.

Passaram a se reunir todas as noites para conversar, trocar ideias e planejar, dentre as mais diversas possibilidades, aquilo que encantaria os convidados. Novas receitas foram criadas, novas músicas ensaiadas, modelos maravilhosos foram desenhados. Todos queriam inovar e dar o seu melhor.

Foram alguns meses de preparação. A rotina do reino mudou. Era tanta gente envolvida que o pessoal da organização já não tinha mais como checar todos os itens sozinhos. As princesas se propuseram a visitar algumas equipes sugerindo um detalhe aqui outro ali, elas eram boas nisso. A maioria recebia muito bem as sugestões, menos a Chef da cozinha.

Numa dessas visitas, as aniversariantes perceberam que não havia uma ordenação no seu ambiente de trabalho. Os apetrechos, potes de tempero, panelas, panos, eram guardados misturados e em lugares diferentes. No dia seguinte, as auxiliares ficavam perguntando umas para as outras, onde estava aquilo ou aquilo outro, perdendo um tempo enorme nesta tarefa. As princesas sugeriram que seria mais proveitoso para o melhor desempenho de todas, que cada coisa tivesse a sua identificação e o seu lugar, mas esses “detalhes” não foram bem aceitos pela cozinheira Chef. “Ela é que sabia” onde estava tudo, sempre tinha trabalhado daquele jeito e nunca tinha dado problema, não seria agora que iria mudar. Como a maestria da cozinha era dela, as princesas não quiseram atrapalhar, e se foram.

Dois dias antes da festa, todos no castelo estavam ansiosos e hiperativos, andavam para lá e para cá, cuidando de mil afazeres, carregando coisas, como formiguinhas no formigueiro. Mas na cozinha, a agitação era ainda maior. Uma ajudante discutia com o outra, falavam todas ao mesmo tempo, e ninguém se entendia. A desorganização do ambiente trazia mais caos a pressão do tempo que ficava cada vez mais curto. A chef gritava com todas para manterem foco no trabalho, mas elas, atabalhoadas, faziam as coisas sem prestarem muita atenção. Tudo precisava ser provado pela cozinheira mor, para ter certeza de que estava bom, seus nervos estavam à flor da pele e isso a estava deixando exausta. Ainda bem que já estava quase tudo concluído, só faltava preparar o bolo, a iguaria mais esperada, pois era famoso o seu sabor no reino. Este seria o selo que iria adoçar e atrair os outros governantes.

Na véspera do evento a cozinheira Chef adoeceu. Febre, dor na garganta, não tinha forças para sair do leito, perdeu o paladar. Outra cozinheira tomou o seu lugar, mas esta, ao contrário da primeira, não conseguia provar nada, pois se o fizesse carregava no tempero. Se fosse sal, salgava. Se fosse doce, melava. Se fosse pimenta, virava dragão. Era o jeito dela, era só não provar. Se obedecesse à receita não haveria problemas.

Finalmente o grande dia chegou, tudo estava pronto e bonito. Os visitantes começaram a vir de todas as partes e foram muito bem recebidos. Todos estavam exultantes e felizes com a bela festa, criada e oferecida com carinho.

Os músicos começaram a tocar animadamente, os canapés e bebidas servidos. Estava tudo um primor. A decoração uma beleza, colorida e delicada. A comida apetitosa. As vestimentas deslumbrantes. Havia alegria e surpresa no olhar dos convidados e alívio nos dos organizadores. Tudo parecia que estava correndo muito bem e a festa seria um sucesso. Só se ouvia exclamações e elogios. Os dois povos se confraternizavam, trocavam presentes, cantavam e dançavam.

Ao final da tarde, após cantarem os parabéns para as duas princesas, um enorme bolo, que parecia uma escultura de tão lindo e perfeito, foi servido, primeiro aos convidados. Todos se espremiam, esperando receber os primeiros pedaços, que rapidamente foram distribuídos. Mas, estes ao darem a primeira mordida, começaram a fazer caretas. Um olhava para o outro, e tentavam disfarçar e continuar a comer, mas as caretas aumentavam. Até que alguém gritou: - Esse bolo está salgado, está horrível! E todos juntos cuspiram o que estava na boca e jogaram seus pedaços no chão. Ofendidos por tamanha desfeita, começaram a reclamar e a xingar com grande fúria, e convocaram todos a se retiraram do local, por tamanho insulto. Ninguém entendia o que tinha acontecido. O rei ficou atônito, provou o bolo e cuspiu também, estava horrível. As princesas começaram a chorar. Todo o trabalho tinha ido por água a baixo.

A festa acabou. A música parou. A alegria se desmanchou. Os vizinhos nunca mais voltaram. A notícia correu por outros reinos que também se sentiram ofendidos. As princesas nunca fizeram amigos e jamais saíram do reino. A cozinheira Chef quando soube do ocorrido, ficou mais doente e morreu. Tudo por conta de um detalhe: os potes de sal e açúcar eram iguais e não tinham identificação.


Moral da história:

“Não confie em tudo o que você vê, até sal parece açúcar”. E...

“A desorganização de um pode acabar com o trabalho de todos” E...

“A arrogância precede a queda”


Maria Tereza Sigwalt



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